domingo, 7 de outubro de 2012

07/19 - Idaho Falls, Butte, Bozeman, etc. - Idaho, Montana

Dia de hoje passado dentro do busão, a caminho de paragens cada vez mais remotas. Basicamente umas 8 horas de uma interminável pastagem meio montanhosa, interrompido por 2 ou 3 lugarejos de uns 20 habitantes, que no cronograma da companhia de ônibus ousam ter nome de cidades. Numa destas paradas, no mais genuíno estilo Na Natureza Selvagem, tive um daqueles momentos de constatação "ih, fodeu, fui longe demais": enquanto tentava convencer o caixa do restaurantezinho de beira de estrada de que havia virtude matemática em pagar uma compra de $3,94 com uma nota de $5 e 44 centavos em moedas e receber $1,50 de troco, o ônibus começava a partir, por questão de segundos não nos deixando a pé e sem bagagem no meio de absolutamente lugar nenhum.
De volta ao marasmo da viagem, sigo constatando como ainda não li, escutei, estudei ou escrevi praticamente nada do que tinha planejado para esta viagem. Até há uns poucos anos, meu principal pânico de férias era ficar hospedado em um quarto de albergue, sem um aparelho de televisão, e explodir de tédio pela falta de com o que me distrair de minha vã existência. Atualmente, com a internet, que por aqui é farta e gratuita para quem tem um tabletzinho com wi-fi, sempre há uma profusão de sites pra fuçar, coisinhas pra ver, joguinhos para baixar, iniquidades de facebook às quais ficar retornando, blogs de viagem que ninguém lerá para escrever, e o tempo vai passando, sendo desperdiçado com coisas-nenhumas. Aprofundamento agora exige esforço, que talvez antes não fosse percebido pela falta de alternativas...
Este senso atávico de urgência e dispersão, aliado a uma intuição muito recôndita de repulsa e ameaça que o Outro nos causa vai empurrando nossas caras para dentro de uma telinha, possibilitando que desistamos aos poucos da relação não-mediada com os outros. Nietzsche não tinha como prever, mas o último homem nascerá com uma entrada USB encravada em seu traseiro. Até a mim, que trato dependência de internet e tenho estômago forte, tem começado a incomodar esta superficialidade misantrópica e saltitante que percebo ao meu redor e dentro de mim. Mas não hoje. A caipirada aqui dentro do ônibus parece que não tem nem telefone celular, só uns chinelos de dedo encardidos e unhas horrendamente mal-pintadas...

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