terça-feira, 30 de outubro de 2012

30/10 - Atlanta - Georgia

E a mudança das passagens nos deu a oportunidade de espremer mais um pouquinho da viagem e conhecer meio de passagem também Atlanta, no intervalo entre a chegada de Orlando e a saída do voo para São Paulo, com as malas já despachadas, apenas uma camisa de algodão cobrindo as banhas, e improváveis SETE graus de temperatura na cidade. Mas o sofrimento com o frio e o vento cortante não deixa de ser um benvindo epitáfio para uma viagem que termina com o retorno aos 37 graus que o termômetro registra neste momento em SP. Como disse Princesa Paula, que pagou muito karma aturando minha lastimável companhia ao longo desta viagem, num sotaque entre francês e caipira, "pra que precisa fazer tanto calor?"

E assim se encerra mais este blog de viagem, hoje mais cedo porque não tem wi-fi grátis no aeroporto. Ano que vem tem outro, ou não, sei lá.
Morais da estória: 1) Jamais cometer novamente o erro de cruzar um país de dimensões continentais de um lado ao outro e de cima a baixo de ônibus. Isto é coisa de retirante, não de turista. 2) Quando a gente achar que tá suficientemente pouco levar 4 cuecas, 3 pares de meias e umas 3 camisas, ainda dá pra cortar tudo pela metade e não ficar passenado com roupas e sapatos que não saíram da mala. 3) no final, tudo dá na mesma e tanto faz... Viajar, não viajar, curtir ou reclamar, emagrecer ou engordar, e já dizia Keynes que, no longo prazo, todos estaremos mortos. Que não seja assim tão longo. Até o ano que vem, fiéis não-leitores.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

29/10 - Orlando - Florida

Segundo e último dia de Universal Studios. Por alguma estranha razão, parque mais lotado hoje do que ontem, pleno domingo. Provavelmente o pessoal prefere ir à igreja em vez de sair para se divertir. Além dos 40 minutos de fila para 2 minutos de cada montanha-russa, é necessário suportar as 89 lanchonetes e 236 lojinhas que eles colocam entre um brinquedo e outro, inclusive, infalivelmente, no caminho da saída de cada atração. Tudo é pretexto para fazer um pouco mais de dinheiro: o ingresso, o suplemento ao ingresso para não pegar fila junto com a ralé (que, por sua vez, acaba gerando uma menor segunda fila, a dos especiais...), o passe de coma-quanto-quiser do parque, o passe do refrigerante à vontade que não está incluído no passe da comida... E, ainda assim, neste mar de mercenarismo maldisfarçado, o tiozinho de meia-idade aqui curtindo chacoalhar no carrinho tanto quanto minha distimia anímica (cada vez menos) me permitia...
O furacão chegou feio hoje em NY, que está parecendo uma zona de guerra, com túneis de metrô inundados, e energia cortada. E o voo, como era provável, foi cancelado. Mas deu pra mudar de rota, saindo agora por Atlanta, então não deve haver maiores transtornos. Não vai ter jeito, acabou a festa, a merda do avião provavelmente mais uma vez não vai cair, e na quarta estou aí de volta ao calor, trânsito e iniquidade existencial.

domingo, 28 de outubro de 2012

28/10 - Orlando - Florida

Bom, fim da experiência com a Greyhound em minha vida,espero que o atual "nunca mais" dure período maior do que o anterior, que sustentei por uns 10 anos. 
Agora, no finzinho da viagem, parque de diversão, porque a meninice dentro da gente envelhece, perde legitimidade, se anacroniza, mas teima em não nos abandonar. Mas começa a dar sinais de cansaço, agora a compulsão por procurar alcançar o terceiro dígito no número de andadas de montanha russa e mais civilizada, negociada sem muito esforço por observar melhor as fachadas, almoçar com mais calma, estas coisas de velho.
Devido ao furacão, os voos de  amanhã já foram oficialmente cancelados. Quanto ao dia seguinte, data do embarque de volta, ainda nada se sabe, mas as perspectivas não parecem boas. É o pior dos mundos, ficar ilhado em Orlando, tendo que lidar com o caos aéreo por telefone enquanto as obrigações e compromissos na Brasil se acumulam, sem sequer ter a oportunidade da experiência de estar no olho do furacão, ser arrastado pelo vento, quiçá ir parar num abrigo de emergências...

sábado, 27 de outubro de 2012

27/10 - Raleigh - North Carolina

O dia de hoje seguiu dedicado praticamente ao ócio, ficando no quarto pela manhã até o último minuto permitido, depois alguma caminhada até um cinema lá longe para assistir a um filme que, no Brasil, eu não perderia tempo vendo nem na televisão aberta. Engraçado como bem aqui, a terra de Hollywood, todos os cinemas, além de geralmente distantes de qualquer lugar relevante, passam sempre a mesma meia-dúzia de filmes, e acho que já vi todos a esta altura da viagem. Em São Paulo a oferta é muito maior, ainda que com forte infestação por filmes franceses, e franco- argelinos, e argentino-malaios, e sino-croatas. E brasileiros.
Depois, tentativa meio frustrada de encontrar um shopping-center mais portentoso (mas passando por um mall bem simpaticozinho), alguma enrolação, e então o embarque no último lastimável ônibus desta viagem.
Agora, a nuvem pesando sobre nossas cabeças é o furacão Sandy, irmão do furacão Júnior, cuja catastrófica chegada à costa oeste dos Estados Unidos está prevista bem para o dia da partida do voo de volta a SP, o que provavelmente deve resultar em seu cancelamento, e vamos ficar presos aqui, ligando para telefones de atendimento a clientes que não completam a ligação até sabe-se lá quando, enquanto os plantões, ambulatórios e consultório que pagam a conta da passagem ficam descobertos. Aliás, nem isto. Esta passagem finalmente foi emitida com milhas, o que me deixa ainda mais apreensivo quanto a eles criarem problemas na hora de reagendar o voo.

26/10 - Raleigh - North Carolina

À medida que descemos em direção ao sul, os ônibus vão ficando mais lotados, os funcionarios da Greyhound, (ainda) mais grosseiros e abusivos, e a fauna humana que nos acompanha, mais malcheirosa, nauseante, e impertinente. A escória da escumalha do rebotalho. Dado que as passagens não são baratas, fico me perguntando por que ainda permaneço seguindo de ônibus nesta viagem, se não pela inércia cognitiva de seguir com algo uma vez começado, seja no que diz respeito ao meio de transporte, seja por esta minha coisa recorrente de, ano após ano, tentar cobrir 463 cidades e 32 países em 30 dias. Desta vez, pelo menos foi um país só.
De qualquer modo, com o a viagem e o gás se aproximando do fim, os dias de hoje e de amanhã, até por serem passados aqui meio neste cu caipira sulista do mundo, foram dedicados mais ao descanso, contemplação, meditação e promoção da paz universal. Então o grande programa de hoje foi apenas a visita ao museu de história natural deles, surpreendentemente mais ajeitadinho, simpático e interativo do que o próprio similar de Nova Iorque. É meio como fazer uma refeição na Ana Paula Arósio, e depois dar uma bimba descomprometida com a Dilma e acabar gostando mais....
E quando o dia já estava para se encerrar tediosamente, descubro uma apresentação do Rocky Horror Picture Show à meia-noite, edição especial de Halloween. Também este é um filme com o qual tenho longa história, iniciada no tempo em que as videolocadoras alugavam fitas em VHS com cópias de cópias de filmes pirateados, passando pelo momento em que tive a oportunidade de assistir num cinema, ao lado de uma paixão pré-histórica, a evento semelhante, a compra de várias versões da trilha sonora do filme e de montagens da peça, assistir uma montagem na Broadway com a participação especial de Sebastian Bach como Rocky, e agora novamente a participação do público no cinema, desta vez em grande estilo, com a reencenação do filme todo na frente do palco e com direito a muitos peitinhos durinhos de fora. Ah, a opressiva saudade da juventude que meu corpo já carregou um dia, e que tantos outros agora carregam....

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

25/10 - Baltimore - Maryland

Baltimore continua linda, bem mais turística do que quando estive aqui pela última vez, e minha alma tinha só uns 248 anos de idade. Mas de qualquer modo mereceria uma (re-)visita, só por ser a cidade natal do Philip Glass...

E, finalmente, num tom mais acadêmico, hoje foi dia de ir lá puxar o saco do tiozinho da Johns Hopkins, ficar conversando sobre caipirinhas e outros clichés, mas pelo menos o almoço foi pago por ele, um sushizinho meio sem graça mas, enfim, de graça. Após feito o social, visita ao túmulo de Allan Poe, que sinceramente nunca me fez muita falta e pouca falta continua fazendo, mas também era uma dívida antiga que eu tinha a pagar com o The Alan Parsons Project.

Passando por lojas disto e daquilo e de mais outra coisa, e no máximo tomando nota de títulos de coisas para piratear da internet depois, percebo o contraste com minhas primeiras viagens, às quais eu ia pesando uns 65 kg (sim, já tive este peso um dia, acreditem...), e voltava pesando mais de 100, com discos, revistas em quadrinho, roupas e eventuais outros cacarecos embaixo do braço. Agora, se minha mochila se extraviasse, eu teria algum transtorno pela falta de roupas, mas todo o fundamental carrego comigo, passaporte e dinheiro no bolso, e tablet na capanga confeccionada pelo meu talentoso pai. Tornei-me atualmente um não-consumidor. Tudo de que preciso, a urgente inexistência e, enquanto esta não me chega, ou não chego a ela, juventude, inocência, miopia existencial, não estão à venda em lojas. O que dizer do estar-no-mundo de alguém que passa um mês viajando no paraíso do capitalismo e levará como suas grandes compras de volta pra casa uns sucrilhos, achocolatados e suquinhos de pacotinho comprados num supermercado de uma qualquer esquina?
Por fim, o dia de hoje comemora a segunda vez que consegui tomar um café expresso ao longo de toda a viagem, mas daquele café de coador deles já tomei oceanos. Mais cafeína o caralho, continuo cochilando no metrô sem qualquer cerimônia....

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

24/10 - New York - New York

Hoje nada restou além de fazer menu de degustação de todo o resto de NY que ainda restava para visitar, incluindo Nações Unidas, Grand Central, High Line, ponte do Brooklyn. Acabaram dançando Chinatown, o Metropolitan e, mais pateticamente, Coney Island, para onde até começamos a nos dirigir, mas tivemos que abortar o projeto no meio do caminho ao nos darmos conta de que o metrô levava de lá até o hotel inacreditável hora e meia, o que nos faria perder o bumba pra Baltimore.
Coisa de narcoléptico, que entra no vagão e apaga, e não se dá conta do tempo decorrido nos percursos. Fico pensando por que metrô é tão narcogênico, mas com os ônibus e aviões já dou menos sorte, o que tem me valido noites bem sofrivelmente dormidas. Como, de qualquer modo, estou com sono o tempo todo, acaba fazendo pouca diferença.
E agora estou aqui a caminho de Maryland, num ônibus recém-higienizado aos limites do paroxismo, recendendo mais a lavanda do que um absorvente íntimo parisiense, e com um barulho no eixo traseiro mais grotesco do que de minha relíquia, o Gurgel, sentindo-me como em plena Apollo 13, prestes a ser ejetado para o espaço sideral a cada novo solavanco. A gente sempre dá um desconto ao que lê nos sites de avaliação porque afinal reclamar é fácil, e o ser humano é um bicho ressentido mesmo, mas a Greyhound merece com louvor toda e qualquer queixa já feita a seu respeito, e algumas novas que tenho descoberto ao longo desta viagem.