quarta-feira, 3 de outubro de 2012

03/10 - Seward - Alaska


Dias chuvosos me deixam pensativo, além de molhado. Hoje foi dia do cruzeirinho marítimo para ver foquinhas nadando e encher o saco dos leões marinhos que estavam lá na deles, na boa, simplesmente se ocupando de existir, e sem receber participação nos 150 dólares por cabeça que cobram pelo passeio. O dia ontem já estava nublado, e hoje choveu abertamente, o que deixou o mar revolto, com o barco balançando bastante, restando a metade dos particpantes do passeio pouco mais a fazer do que administrar seu enjoo e torcer para voltarmos logo a solo firme. Um deles decorou devidamente o banheiro do barco com generosas e amplas porções de seu vômito, e eu mesmo precisei respirar fundo algumas tantas vezes, para evitar que meu tubo digestivo promovesse, por assim dizer, uma inversão direcional da ordem natural das coisas. E lá, bem ao longe, uns pontinhos que pulavam para fora da água, e que nos pediram para acreditar que eram golfinhos, ingeriam um tanto do óleo do motor da embarcação. O fato é que tudo é mais próximo, abundante e seco no Discovery Channel.
Por que então estar aqui presencialmente tão perto-longe das alegadas morsas e baleias? De um ponto de vista estritamente empírico, estar aqui ou no sofá de casa se trata apenas de diferentes conjuntos de pontos associados a determinado efeito de curvatura no tempo-espaço. As coisas não têm sentido ou propósito em si mesmas, nada mais são do que cargas elétricas e quantidades de movimento ocupando determinadas coordenadas num determinado sistema de referência. Somos nós que atribuímos sentido e propósito a elas, e brincamos de achar que este sentido delas emanou.
E fica então a grande questão, que certamente não aflige as focas: se todo sentido é caprichoso e eletivo, que critérios adotar na hora de escolhê-los?

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