domingo, 30 de setembro de 2012

30/09 - Anchorage - Alaska

Nêgo teimoso só se fode mesmo. Já tinha ficado muito tarde para embarcar em algum cruzeiro pela costa do Alasca, mas mesmo assim insisti em vir pra cá, porque eu sou metido e pernóstico. Certamente ainda restaria algo para fazer. Aí, hoje, ao procurar alguma agência de excursões, descubro que também foi este o último da temporada para os passeios menores pelos fjordes, e a partir de amanhã basicamente nada mais acontece. Mas ainda deve dar pra rolar uns passeios para uma reserva de conservação animal, a 140 dólares por cabeça, e uma caminhada por uma geleira, por impronunciáveis 250 dólares.
Temperatura hoje ao redor dos 5 graus centígrados, mas a alma humilhada por anos após anos de calor paulistano nem percebe, se rejubila e quase se ilude e acredita que a vida é bela. Mas depois passa. E em cima disto tudo um sol provavelmente escaldante, que a pele está orgasticamente friazinha demais pra perceber, mas que provavelmente deixará marcas que os próximos dias denunciarão. No banheiro do avião, ontem, detectei uma ruga em minha pálpebra! Agora, e já faz tempo, é ladeira abaixo, e a ladeira é longa...
E leio que a Hebe Camargo finalmente virou estrelinha... Acho que está mais para anã branca.... Quantas rugas na cara uma pessoa precisa acumular e quantas rugas na alma precisa negar para se permitir a dignidade de parar de combater o inevitável?

sábado, 29 de setembro de 2012

29/09 - Minha vida em aeroportos

Não foi desta vez. Vaso ruim não quebra, o avião não só não caiu como era daqueles antigos, sem telinha de TV individual no assento da frente, mas apenas aquelas no teto da aeronave. E toma assistir filme com a Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro (!), com um americano balofo padrão roçando a perna na minha e bloqueando minha passagem até o banheiro. Agora, estamos aí aguardando a conexão número 1 para Salt Lake City, de onde sai a conexão número 2 para Anchorage, depois de mais umas 5 horas de gancho....
Agora, no aeroporto de Salt Lake City, com o banho já vencido e o saco tão cheio que já não tenho mais certeza se estou sentado em cima dele ou da bunda. Ao tirar a tradicional foto da montanhazinha de fundo pela janela do aeroporto, fui tomado pela sensação da já ter fotografado a mesma coisa, talvez até mesmo do mesmo lugar, uns quinze anos atrás, quando estive aqui, claro que com mais cabelo na testa, menos banha da pança e bem mais leveza na alma. É o eterno retorno, não na forma de um idílio anal interminável em loop com a Ana Paula Arósio, mas de fotografias idênticas de janelas de aeroporto década após década....após década.

No pouso do avião, a aeromoça baranga informa, um tanto burocraticamente, a presença de alguns militares no voo, e agradece os serviços prestados à nação. Então, salva de palmas efusiva, espontânea e genuína vida de praticamente todos os passageiros do avião. Fico pensando que nós, os macaquitos, não aplaudiríamos nem os milicos nem o Zé Dirceu. Mas não consigo concluir bem o que isto significa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

28/09 - Prólogo - uma pequena fábula ídiche

Prólogo: Uma pequena fábula ídiche "Um dos filhos do povo escolhido havia se cansado de viver. Desapontado com a existência em um mundo que o forçava a escolher entre Russomanski, Haddadberg e Serretz, e ainda inconformado com a mutilação genital a que havia sido submetido em tão tenra idade, incansavelmente praguejava contra Javé, com quem se ressentia por não levá-lo embora deste mundo num acidente aéreo. Os anos se acumulavam, os cabelos caíam, a barriga cada vez mais bloqueava a visão de porções circuncisadas de seu corpo, e nosso herói continuava a não explodir numa gloriosa e redentora bola de fogo. E então, brincando com suas trancinhas, de novo e de novo maldizia Aquele Que É O Senhor, acusando-o de não ter consideração por este seu filho. Até que Javé, em um belo e ensolarado feriado judaico, já não suportando os contínuos impropérios a ele dirigido, resolveu interromper seu trabalho de transformar pessoas em estátuas de sal, desceu de sua nuvem, e com a voz embargada de ira divina exclamou: -Schlong! Mas Aderbovicz, você pelo menos poderia facilitar minha vida e entrar num avião, né?" O voo sai daqui a pouco. Tô fazendo minha parte, Papai-do-Céu. Vê se não come mosca de novo....

terça-feira, 25 de setembro de 2012

As regras do jogo

Pra Nova Iorque, todo mundo vai. Eu já fui, você já foi, dona Marisa Letícia já foi, o cachorrinho da vizinha do 72 já foi. Pra Miami nem precisamos já ter ido, porque de lá nunca saimos. Miami é assim uma coisa que a gente carrega dentro de nós, em algum lugar ali perto do intestino. Já que a existência é maior do que a quantidade de lugares interessantes para visitar no mundo, e não me restou muito além de passar férias nos, hã, Estados Unidos, que seja pelo menos nos lugares menos batidos, naquelas cidades e estados de nomes estranhos com os quais a gente um dia esbarrou ao fuçar no atlas geográfico das aulas da quarta série. 30 dias sem hotel reservado, sem destino traçado, indo para onde o busão me levar, meio assim num On the Road com bem menos bissexualidade. E com bastantes horas-bunda investidas nos meios de transporte, e bastante tempo disponível pra escrever blog de viagem que, a exemplo do anterior (o inegociavelmente dispensável morteaoscangurus.blogspot.com) ninguém vai ler também. Deus nos ajude. Ah, e tem a musiquinha que, em minha mais esplendorosa ociosidade, eu montei para servir como trilha sonora pro blog, mas depois não consegui fazer tocar enquanto ele é acessado: https://www.dropbox.com/s/xj3wmmh392pter0/Blog.mp3